Assim como os outros onze discípulos, Judas Iscariotes também foi separado. Dentre aqueles que enxergaram a dureza do evangelho e preferiram ir embora, este preferiu estar com Jesus. Mas nós sabemos que este é “aquele que traiu Jesus”.
O que difere Judas? O que o tornou traidor? Arriscamos dizer que esta – a posição de traidor - não era a vontade de Deus para sua vida, uma vez que recebeu este chamado do seguimento.
“Jesus acrescentou: Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um de vós é um demônio! Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era quem o havia de entregar não obstante ser um dos Doze.” (Jo 6, 70-71)
Nas escrituras, não temos a descrição da origem de Judas, seu ofício anterior, nem muito sobre seu temperamento. Dos relatos que temos, podemos perceber somente seu apego à coisas materiais, sobretudo ao dinheiro. Contudo, não se pode resumi-lo nessas dificuldades, portanto não podemos também justificar seu erro por essas atitudes, porque o que caracteriza Judas e suas faltas, na verdade, é a falta de amor.
Os escolhidos para seguir Jesus eram aqueles que acreditavam e esperavam a promessa da vinda do Messias, e mesmo que esperassem um Messias diferente, souberam acolher a Verdade e foram dóceis à formação que receberam.
Em paralelo, Judas não recebeu essa Verdade com o coração aberto, mantendo-se assim, ao lado daqueles que não concordavam com a messianidade de Jesus, mesmo que caminhasse com Ele.
Quando não recebemos a Verdade de Deus, somos incapazes de amar, pois não compreendemos o próprio Amor, que é Cristo. Só é possível amar quando se conhece o verdadeiro Amor, e para isso é necessário um coração aberto e desejoso.
Um coração que mesmo não sendo capaz, aceita ser capacitado para a mudança de pensamento pela própria Verdade.
Judas caminhou, ouviu e partilhou com os discípulos, mas não acreditou que a vinda de Jesus traria alguma mudança significativa, pois essa não era a mudança que ele esperava.
Veja, Jesus não trouxe a salvação que os judeus esperavam, a salvação terrena. Mas aquela que não seria palpável até que se completassem os dias, e isso para Judas, apegado as coisas materiais, era inconcebível, pois esse apego ao dinheiro foi maior do que o desejo de morrer com Cristo para obter o verdadeiro tesouro.
Muito se compara a traição de Judas com a de Pedro, que negou Jesus, e são definidos pela atitude posterior à traição:
O primeiro, que se entregou ao desespero e suicidou-se. E o segundo, que acreditou na misericórdia de Deus e redimiu-se.
A Metanoia, mudança de pensamento, que havia sido plantada em Pedro, e viria a surtir efeito após a Ressurreição, não aconteceu em Judas, levando-o a esconder-se em sua própria miséria.
Quando não acolhemos o senhorio de Jesus em nossas vidas, e permitimos essa metanoia, não vemos a Ressurreição, e assim como o Traidor, nos recolhemos na ausência de Deus: essa ausência que não é causada pelo próprio Deus, mas sim pela nossa falta de amor.
O amor que faltou em Judas, o impediu de ver além do seu erro e de suas certezas que o fizeram errar, pois um coração que conhece o Amor e pode verdadeiramente amar, não se envergonha em correr atrás dAquele que o escolheu e enfim dizer: “Senhor, tu sabes que eu te amo”.
Senhor, tu sabes que acolhi a mudança que sua presença trouxe em mim. Sabes também que por mais que venha a trair-te, trinta moedas não me bastam, pois conheço Teu Amor, e só ele me basta. Quero, Jesus, demonstrar que posso ser diferente de Judas, que não acreditou que seria salvo por Ti. Serei salva, Senhor, por esse Amor, porque acolho a sua Verdade em mim.
Somos convidados, nesses dias que antecedem a Paixão de Nosso Senhor, reconhecer nossos apegos, e entender se verdadeiramente acolhemos a Salvação.
Giovanna Aparecida Mendes
Vocacionada do Caminho
Juventude Instrumento de Deus
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