“Quando não fazemos leitura de que somos voz, vivemos só para nós mesmos”.
O seguimento de Cristo é parte do carisma de nossa comunidade, é a base o princípio de cada característica da vivência dessa vocação enquanto Instrumentos de Deus.
Tudo o que a comunidade provoca em nossas vidas é para mergulhar neste ato constante de seguir Jesus.
A palavra “seguir” tem os sentidos de: ir atrás, andar na companhia ou até mesmo, andar no mesmo ritmo. E não teve outro ritmo o da vida de Cristo senão a Cruz e a sentido para o Pai.
Neste ano, estamos meditando profundamente a respeito do convite do próprio Cristo: “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me." (Lc 9,23)
Muitas vezes quando ouvimos “toma a sua Cruz”, pensamos apenas no fato de aceitar as lutas e sofrimentos do dia a dia. Sofrer, já sabemos que não está isento para quem segue Jesus, mas hoje, Deus quer nos falar de forma mais prática sobre este tomar a Cruz.
Como vimos, seguir também significa “andar no mesmo ritmo”. Então nós vamos refletir brevemente sobre o ritmo do Caminho da Cruz que o próprio Cristo fez.
Entre a agonia e a morte, Jesus carrega sua Cruz até o alto do calvário. E é importante notar que as palavras de Jesus não foram: “sofre e agoniza pela cruz que vai vir” - até porque nossa esperança está em Jesus, amém? - Tampouco disse “morre também numa Cruz” - até porque Ele já morreu por nós, o sacrifício foi feito, e o dom do Martírio só desce sob os escolhidos por Deus.
Enquanto carregava sua Cruz, Jesus viveu o dom de si. De forma eficaz, este é um convite para mim e para você na Cruz de cada dia.
Certa vez, em uma formação pessoal dentro da comunidade, trazendo as lutas, e verbalizando todas as minhas justificativas, meu formador se voltou pra mim e disse “Quando não fazemos leitura de que somos voz, vivemos só para nós mesmos”.
E ao rezar este mistério da paixão de Cristo, me dei conta de que o Dom de Si, a vida consagrada para Deus e para o outro se manifesta principalmente no carregar da Cruz.
O que me coloca mais em egoísmo e autossuficiência do que no vitimismo? Do que achar que eu sofro mais, e que em mim dói mais? As lutas, muitas vezes, turvam nossa visão.
O que nós precisamos buscar viver, então, ao carregar nossa cruz diária? Muitas coisas, claro, mas algumas delas são as seguintes qualidades:
Firmeza de Cristo
Pela meditação da Via Sacra, a Igreja nos ensina que Jesus “tomou a cruz aos ombros”. Ele não segurou nos braços, não puxou com uma cordinha, não arrastou do lado do corpo apoiando com as pernas.
Nosso Senhor assumiu aquilo que era parte do chamado dele, assumiu de forma madura, dolorosa e consciente - por amor - tomando a cruz aos ombros.
Quando criança, ajudava muito meu pai nas reformas e arrumações de casa. Carregando alguns blocos de tijolo, caixas com livros, etc. Lembro-me perfeitamente dele me ensinar que as coisas pesadas são mais ‘fáceis’ de carregar na cabeça ou nos ombros, porque o corpo equilibra e aguenta mais.
Aonde você está carregando sua cruz? Algumas vezes nós a carregamos no ombro do outro. Sem assumir total responsabilidade. Ou pior, a carregamos no imaginário, sem reconhecer o que de fato é a nossa renúncia pessoal a qual somos convidados, como Jesus, a colocar de forma madura e firme nos ombros. Pois todo o nosso ser precisa equilibrar de lidar com o peso desta cruz.
Constância de Cristo
Jesus caiu três vezes. E nenhuma o fez murmurar pra Deus, tampouco desistir, fugir, se acometer de ira. Após cada queda, ele se levantava (ou era levantado até mesmo pelos algozes) mas seguia. Porque de todo coração firme brota a constância.
Como trouxe no início, o seguimento é a base do nosso carisma. Meditando a constância, lembro de nos primeiros anos formativos dentro da comunidade receber como resposta de minha carta um convite da comunidade:
“Queremos contar com a sua fidelidade, constância e transparência em cada passo (...) caminhe com mais segurança e ousadia guiado pela graça do Espírito Santo”
São Tomás de Aquino vai ensinar que não existe nada de mais constante no ser humano do que a própria inconstância. Mas isso não significa acomodar-se.
O convite a tomar a Cruz, é um convite à constância, que é fiel, que é transparente, que é ousada. E o melhor, é uma graça do próprio Espírito, porque sozinhos de fato não conseguimos.
DICA DE VÍDEO PARA ASSISTIR DEPOIS:
A humildade de Cristo
Ninguém sabia quem era, mas ele estava lá. Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a própria Cruz.
Não é porque a dificuldade é minha que preciso enfrentá-la sozinho. Muitas vezes dói imensamente pedir uma oração, partilhar uma crise. Mas Deus não nos fez para viver só.
Justamente por viver aqui em comunidade, compreendemos dia a dia o que nos ensina o código canônico (713): A assumir os conselhos evangélicos mantendo entre si “a comunhão e a fraternidade próprias” do carisma.
Deixar que as nossas feridas encostem na vida do outro (e vice-versa) é parte do dom de si, e é característica profunda de tomar a Cruz que nos é devida. Da mesma forma, Jesus teve o rosto enxugado por Verônica, deixou que sua mãe o visse naquela situação.
Quanta exposição de si! A verdade de nossa miséria se derramando sobre a verdade do Cristo através da vida fraterna.
A disponibilidade de Cristo
Viver para si mesmo muitas vezes nos faz não aceitar expor-se, nos faz não aceitar ajuda, nos faz ficar no vitimismo fugindo de levantar e seguir o caminho; Viver para si nos faz também ignorar o convite de Cristo, nos faz ser efêmeros.
Mas Cristo entendia que ele era voz. Cristo, vivia o dom de si. A ponto que, mesmo sofrendo, consolou as piedosas mulheres.
Todos os caminhos de nossa história, nas circunstâncias de glória ou humilhação, nossa vida deve ser uma doação de si aos outros. Porque a vida de Cristo foi uma doação aos outros e isso é parte do seguimento.
Reconhecer a necessidade, em diversos momentos, de viver cada aspecto do seguimento de Cristo nos levará sempre à um último (e também primeiro) ponto:
O despojamento de Cristo
Todas as outras qualidades que vimos anteriormente são uma forma de despojamento. Mas houve um momento em que rasgaram as vestes de Jesus para repartir entre si.
Somos convidados a viver um despojamento diário, com os irmãos mas principalmente diante de Deus. Como nos exorta a palavra: "Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor, vosso Deus, porque ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-se do castigo que inflige." (Jl 2,13)
É na vida interior, na conversão diária e no despojamento que nos assemelhamos a Cristo.
No seu caminho de seguimento a Jesus, não esqueça de - pela graça do Espírito Santo - se esforçar em tomar a sua cruz de com firmeza, constância, humildade, disponibilidade e despojamento.
Graça e Paz!
Bruno Aparecido
Discipulado de 2° Ano
Comunidade Católica Instrumento de Deus
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