"Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes? 22 Jesus respondeu: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Evangelho". (Mt 18,21-22)
O tema perdão é muito presente em nossa vida de cristãos. Ouvimos pregações, testemunhos, homilias, lemos livros e mesmo assim, com dificuldade o praticamos.
O ato de perdoar pode se configurar de algumas maneiras: Eu para com o outro, eu comigo mesma e o outro comigo. Em todos esses casos demanda um exercício de sair de si, reconhecer a fraqueza, o erro e pedir a ajuda do Espírito Santo, o único capaz de nos modificar e quebrar nossas barreiras a exercer o perdão. Para a nossa reflexão de hoje vamos nos direcionar ao meu perdão em relação ao outro.
Todos nós, em algum momento, já vivenciamos o processo de perdão, seja por um pisão no pé, que doeu, seja por uma fofoca ou algo mais grave. Podemos concordar que não se caracteriza como um processo fácil, mexe muito com o nosso interior, nossos sentimentos, orgulho e fraquezas. E, pode passar pela nossa mente o seguinte pensamento: “Eu? Dar o perdão àquela pessoa? Que tanto me fez mal? É como se eu estivesse dando a razão para ela, e não para mim que sofri. Isso não é justo.
Em resposta a essas indagações o Papa Francisco em uma de suas orações do Ângelus, no dia 13 setembro de 2020, sobre o mesmo evangelho, nos diz: “Jesus nos exorta a abrirmo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça, sabemos disso. Há necessidade desse amor misericordioso…”
Quanta sabedoria expressa em poucas palavras e ele ainda continua: "Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se, por sua vez, não concedermos perdão ao nosso próximo. É uma condição: pense no fim, no perdão de Deus e deixe de odiar, mande embora o rancor, aquela mosca incômoda que volta e volta e volta. Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados”.
Entendendo essas palavras do Papa e nos apropriando de seus ensinamentos, precisamos reconhecer que perdoar é uma decisão que precisa ser feita diariamente pelo cristão.
Durante a nossa caminhada na Igreja o ato de perdoar o irmão pode ser colocado como um fardo que precisamos carregar, uma obrigação diante dos mandamentos de Deus e socialmente, porque sou cristã, e as pessoas sabem disso, preciso dar o bom exemplo. Ao contrário de tudo isso, o ato de perdoar precisa tornar-se um exercício constante, um hábito, uma necessidade e não um peso, ainda mais para aqueles que convivem em comunidade.
Pela diversidade de irmãos que convivemos, de histórias, precisamos perdoar nossos irmãos sempre. Caso o irmão tenha nos feito algo, caso tenha feito algo a outro irmão, devemos perdoá-lo por sua história de vida, por suas escolhas, às vezes erradas, e até mesmo por talvez ter escolhido sair da vida comunitária.
Não há vida comunitária sem perdão, não há vida de oração íntima com Deus, se nosso coração está endurecido pela falta do perdão. O catecismo da Igreja Católica nos traz: “Ora, e isso é temível, esta onda de misericórdia não pode penetrar nos nossos corações enquanto não tivermos perdoado àqueles que nos ofenderam. O amor, como o corpo de Cristo, é indivisível: nós não podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amarmos o irmão ou a irmã, que vemos (121). Recusando perdoar aos nossos irmãos ou irmãs, o nosso coração fecha-se, a sua dureza torna-o impermeável ao amor misericordioso do Pai…” (2840)
Enfim, meu objetivo aqui não é esgotar o assunto perdão, mas trazer uma reflexão de como, muitas vezes, colocamos o ato de perdoar como um pedra na nossa caminhada ou, então, tornamos ele condicional ao outro: se ela mudar eu perdoo, se ele me pedir perdão eu perdoo. E, isso impede a nossa conversão diária.
O perdão que dou, não é apenas ao meu irmão, mas para mim, para minha salvação e minha santidade. Termino com uma frase de Santo Agostinho para nos levar a meditar a graça do perdão. “Quem negar seu perdão ao irmão não espere receber os frutos de sua oração”.
Catecismo- disponivel online em: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p4s2_2759-2865_po.html
homilia do papa: https://www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-somos-chamados-a-perdoar-sempre-30348https://www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-somos-chamados-a-perdoar-sempre-30348
Nicolle Marcondes
Discípula do 2°ano
Comunidade Católica Instrumento de Deus
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