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O Espírito nos leva ao deserto

No evangelho do primeiro Domingo da Quaresma pudemos acompanhar Jesus sendo conduzido pelo próprio Espírito Santo ao deserto antes de iniciar a sua missão de anúncio do evangelho: 


Homem caminhando pelo deserto

“O Espírito levou Jesus para o deserto. 13 E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam. 14 Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Marcos 1,12-15).


Mas porque o Espírito Santo levou Jesus ao deserto?

No deserto, Jesus pode viver um momento de preparação e fortalecimento espiritual. Nesse lugar de solidão e silêncio, Jesus pôde se distanciar das distrações do mundo e se concentrar totalmente na vontade do Pai, sem interferências externas. 

A passagem de 40 dias pelo deserto permitiu também a Jesus enfrentar e vencer as tentações de Satanás, demonstrando sua total adesão ao plano de salvação divinamente estabelecido (CIC 538, CIC 566).


Mas não bastava estar no deserto, era necessário bem viver este tempo.

É isto que nos revela outra história de deserto que não teve um resultado tão positivo quanto o de Jesus, a própria jornada do povo de Deus, os Israelitas quando saíram do Egito. No encontro de Moisés com a Sarça Ardente, é o próprio Deus quem revela a Moisés:

“Eu vos tirarei do Egito onde sois oprimidos, para fazer-vos subir para a terra dos cananeus, dos hiteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus, terra que mana leite e mel. Eles ouvirão a tua voz. Irás então com os anciãos de Israel à presença do rei do Egito e lhe direis: O Senhor, o Deus dos hebreus, nos apareceu. Deixa-nos, pois, ir para o deserto, a três dias de caminho, para oferecer sacrifícios ao Senhor, nosso Deus”. (Êxodo 3, 17-18)

O próprio Deus conduziu os Israelitas ao deserto, no entanto em um percurso relativamente curto os Israelitas passaram mais de 40 anos para percorrê-lo, onde a grande maioria não chegou à terra prometida, fazendo perder toda uma geração, incluindo Moisés, Araão e Mirian.


O que diferenciou então a jornada de Jesus da jornada dos Israelitas por viverem o deserto?

O Profeta Ezequiel vem ressaltar justamente o que o povo de Deus fez para não bem viver esta experiência de deserto, trazendo consequências tão sérias:

Eu os fiz assim sair do Egito e os conduzi ao deserto. Todavia, no deserto, eu lhes fiz o juramento de não levá-los à terra que eu lhes tinha prometido, terra onde corria leite e mel, a mais bela de todas as terras, porque haviam rejeitado as minhas leis, abandonando os meus preceitos, profanando os meus sábados e entregando-se intimamente a seus ídolos. (Ezequiel 20, 10.15-16)


A escolha do deserto como local de preparação e encontro com Deus ressalta a importância da humildade e da simplicidade diante do Senhor. Assim como João Batista pregou no deserto, anunciando a conversão e preparando o caminho para Cristo, Jesus também se retirou para esse lugar árido e solitário para iniciar seu ministério público com firmeza e determinação, apoiando-se na oração e no desapego das coisas terrenas através do jejum, buscando desta forma viver intensamente a vontade do Pai.

Deus não tenta ninguém e também não nos envia à uma missão ou jornada que não possamos trilhar.


No entanto, nas adversidades da vida, temos a oportunidade para sermos purificados de nossas intenções, nos fazendo também abraçar o que é transcendente, renunciando às benesses deste mundo, às “cebolas do Egito”(comida farta que havia no Egito apesar da escravidão) e aos ídolos que ocupam as nossas vidas, Deus tem algo muito melhor para nos oferecer. Por isso vai dizer São Tiago:


Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Ninguém, quando for tentado, diga: “É Deus quem me tenta”. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. (Tiago 1, 12-14).

É o Espírito Santo quem nos conduz a estes momentos de deserto, oportunidades que temos em nossas vidas para sermos purificados, mas é preciso também recorrer ao mesmo Espírito para que possamos bem viver estes momentos. Os Israelitas saíram do Egito, mas tiveram dificuldades de permitir que o Egito “saísse deles”, do desejo de seus corações.


Será que Deus também não está fazendo hoje a cada um de nós este convite, para entrar no deserto? Para que saibamos abandonar tantas coisas que ainda ocupam o lugar do próprio Deus em nossos corações?


A voz de Deus nos leva para o deserto, mas também é esta mesma voz que deseja nos conduzir em todo este processo para alcançarmos o que o Pai deseja para as nossas vidas. Busquemos então viver esses momentos críticos em nossas vidas da mesma forma que Jesus, em espírito de oração e desapego, para que tenhamos um correto discernimento a fim de fortalecer nossa fé, resistir às tentações do mal e nos preparar para cumprir a vontade de Deus com coragem e confiança.




Isaac Fernandes

Discipulado de 2° Ano

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