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A fé na tempestade

“É nesta hora em que percebemos que o barco não navega sozinho, e como naquela tempestade, Jesus está no barco e deseja fazer de nós pessoas de fé e de esperança, mesmo diante da agitação do vento e do mar...”

35 À tarde daquele dia, disse-lhes: “Passemos para o outro lado”.36 Deixando o povo, levaram-no consigo na barca, assim como ele estava. Outras embarcações o escoltavam.37 Nisso, surgiu uma grande tormenta e lançava as ondas dentro da barca, de modo que ela já se enchia de água.38 Jesus achava-se na popa, dormindo sobre um travesseiro. Eles acordaram-no e disseram-lhe: “Mestre, não te importa que pereçamos?”.39 E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: “Silêncio! Cala-te!”. E cessou o vento e seguiu-se grande bonança.40 Ele disse-lhes: “Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?”.41 Eles ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”

(Mc 4, 35-41)



Ao meditarmos este evangelho, percebemos a inquietação e falta de dos discípulos diante do mar turbulento. Hoje a humanidade inteira encontra-se neste mar agitado, num mar de incertezas e inseguranças, que ao olhar humano, não tem fim. Tudo o que era porto seguro, tornou-se alto mar.


Diz um ditado popular que “mar tranqüilo não faz bom marinheiro” e então, podemos compreender que esse mar agitado e a tempestade em que estamos mergulhados deseja fazer de nós “bons marinheiros”.


E é nesta hora em que percebemos que o barco não navega sozinho, e como naquela tempestade, Jesus está no barco e deseja fazer de nós pessoas de fé e de esperança, mesmo diante da agitação do vento e do mar.


“A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade.” [1]


Temos a oportunidade de sair de uma espiritualidade superficial e vazia, e abrir-se a um tempo novo de intimidade e perseverança, pois são nos momentos mais difíceis que nos aproximamos mais de Deus, algo que faz parte da maioria de cada um de nós, quando está em meio ao caos, é a Deus que recorremos.


E assim com grande amor e misericórdia Ele nos auxilia e nos dá uma nova chance de nos aproximarmos mais d’Ele. “Quando fazemos as pazes com a impotência, ela passa a ser um lugar de autêntica experiência de Deus” (Anselm Grum).


Vejo nas redes sociais e nas mídias, as procuras por meios de manifestar a fé, inovações na evangelização, programas e terços variados para manter a fé do povo, criatividades de sacerdotes, para manterem seu rebanho em unidade em meio a tantas distancias sociais, e por vezes me pergunto se neste tempo estamos valorizando a preciosidade que é receber os sacramentos, a comunhão dos fiéis na Igreja, as ações pastorais e evangelização infinita que a nossa Igreja realiza. Não podemos passar por esta tempestade sem apreciarmos o que nos foi momentaneamente reduzido às ações externas, mas acima de tudo o que estamos colhendo espiritualmente dentro de nós com esse tempo de tantas mudanças.


Os bons marinheiros serão formados nesta tempestade se tiverem um olhar transcendente, olhar além das circunstâncias, e de darem um novo sentido para a vida. Desenvolverem a capacidade de olhar quem se é de verdade e onde está a sua verdadeira segurança. Aprofundar a espiritualidade e sair da superfície, deixar que Deus seja o vento a guiar e conduzir a sua história.


Jesus está no barco e não nos deixa a deriva em alto mar,tenhamos a fé como nosso sustento, a Esperança como guia e o amor a Deus e ao próximo como nosso objetivo diário.

Termino esta reflexão com a oração do Nosso querido Papara Francisco na benção Urbi et Orbi de 27 de março de 2020, em razão da Pandemia do coronavírus no mundo:

“ Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7).”


Camila Araújo

Cofundadora da Comunidade Instrumento de Deus




[1] Trecho da homilia do Papa Francisco de 27/04/2020 na benção Urbi et Orbi;


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