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Espiritualidade em Formação: O Eu-Igreja na Liturgia das Horas

Que tal aprender um pouco mais a exercer o “Eu-Igreja”? Não estamos falando de atividade pastoral, de oferta de dízimo nem de responsabilidade social. Mas de vida de oração!


Nossa Igreja é rica de carismas e espiritualidades, e tudo aquilo que Deus providenciou aos seus filhos durante todos estes anos para que estejam cada vez mais perto de Sua graça é sustentado por um dom e beleza muito maior que pertence à Igreja e comunga todos os carismas.

Comunidade Instrumento de Deus rezando a liturgia das horas

O “Eu-Igreja” se manifesta através da liturgia que deve ter um lugar central em nossas vidas, porque nos coloca na centralidade da vida que é o próprio Deus e coloca o próprio Deus na centralidade de nossa vida.


Aqui, vamos discorrer um pouco sobre a liturgia das horas - prática de oração recomendada pela igreja e que faz parte da vida espiritual de nossa comunidade - a fim de fortalecer nossa formação neste aspecto para melhor rezar as horas canônicas.


Uma oração propriamente comunitária


Sabemos que a prática da oração é necessária para fazer crescer nossa intimidade com nosso Criador, uma vez que ela é este diálogo de Amor do homem com Deus. A oração por si só é muitas vezes pessoal ou então comunitária.


Mas a liturgia das horas, especificamente, é de cunho comunitário. É comunitária porque é litúrgica e também porque nos faz Igreja quando nos colocamos a rezá-la.


Além de nos fazer Igreja, precisamos entender também que as horas litúrgicas têm valor maior do que orações de devoção e piedade. Por que? Porque ela é litúrgica, ou seja, existe uma fórmula, um rito prescrito pelo cânone (as leis) da Igreja. Portanto, assim como a Santa Missa é uma oração mais importante do que o Rosário por constituir uma liturgia canônica, o mesmo podemos considerar das Liturgia das Horas (canônicas).


Isso faz da oração das horas, então, a oração oficial da Igreja. E aqui podemos descobrir algo belo. Quando se proclama as laudes, ou as vésperas e até mesmo a completa, não é você quem reza, mas é a Igreja através de você.


Ao rezar a liturgia das horas, você faz isso em nome da Igreja, não em próprio nome. Porque é uma oração comunitária, qualquer pessoa que reza aqui no Brasil, reza igualmente na china e com a autoridade da Igreja, pelas intenções e com o coração da Santa Igreja.


Importante esclarecer que, mesmo sendo uma oração comunitária ela pode sim ser proclamada por uma pessoa sozinha (porque ali ele se une em Espírito a toda a comunidade). Mas deve estar ciente de que é uma oração proclamatória, então não pode ser “lida” mentalmente, tem que ser com reverência, em alta voz e com a mesma atenção Às palavras e até mesmo predisposição física que temos na santa missa, com postura e tudo mais.


A centralidade da liturgia das horas


Seja pela celebração da eucaristia, seja pelo ofício das horas, existe uma ação muito própria da liturgia - que já falamos aqui - e por esta ação, coloca em unidade todo carisma, missão, vocação, estado de vida, instituto…

A liturgia nos tira do centro para colocar a Deus, porque a vida do homem é adorar a Deus e o ato litúrgico visa sempre (e unicamente) adorar e louvar ao Senhor. Por isso, também, é um mesmo rito para toda a Igreja. Não é uma oração que posso fazer sobre mim, meus sentimentos, minhas emoções, não é uma oração para me agradar ou encher de consolação, é uma oração para adorar ao Senhor e fazer dEle o centro de todas as coisas.


Somos convidados à renúncia do próprio eu. Quantas vezes durante as orações litúrgicas nossa mente se distrai, ou a leitura fica automática, nos dispersamos ou aquilo não faz muito sentido à nossa consciência? Para isso é necessário ter um coração atento que busca colocar Deus no centro.


Enraizada na história da Igreja


Sabemos que os primeiros cristãos eram judeus, e os judeus tinham muitos ritos, já tinham horários específicos de oração.


Toda a leitura do antigo testamento feita pelos primeiros cristãos até meados do ano 70 D.C (quando as primeiras comunidades cristãs estavam sendo formadas pelos apóstolos), era uma leitura cristoscêntrica. Liam os salmos, os profetas, e tantos livros daquilo que conhecemos como antigo testamento, percebendo que Cristo estava ali sendo revelado em cada texto.


No ano 313, o imperador Constantino, filho de Santa Helena (de Constantinopla) decidiu libertar os cristãos da perseguição que sofriam. Com isso, a Igreja deixou de ficar escondida e os imperadores romanos passaram a doar as basílicas (espaços arquitetônicos de trocas econômicas, soluções jurídicas, etc) para que os cristãos realizassem seus encontros.


Depois disso, a Igreja passa por duas grandes vertentes na liturgia das horas. A liturgia Catedrática e a liturgia monástica.


LITURGIA CATEDRÁTICA - Era composta de laudes e lucernário (hoje conhecida como vésperas). Naquele tempo, antes de sair para trabalhar e na volta dos afazeres, o povo se reunia nas catedrais para rezar os salmos com os bispos da Igreja, porque não havia missa diária, então o encontro era este, um encontro litúrgico ao despertar do dia - como preparação de um dia de trabalho - e no cair da tarde.


LITURGIA MONÁSTICA - A “profissão” (ofício) dos monges é a oração, o louro a Deus, por isso eles criaram um ciclo de três em três horas para glorificar a Deus santificando o tempo.

Por esta razão chamamos de oração das horas, horas canônicas e, principalmente, Ofício Divino.


Com o passar do tempo a liturgia catedrática foi saindo do costume popular e do ritmo de vida da Igreja, mas a vida monástica guardou durante muitos anos a boa prática deste tesouro litúrgico.


Um convite para toda a Igreja


Passados muitos anos, com o Concílio Vaticano II, a Igreja entendeu que era necessário voltar às fontes, decidindo possibilitar a todo o povo de Deus exercer este louvor, criando uma nova edição do rito da oração das horas que hoje é mais acessível com o breviário, onde o Concílio dividiu todos os 150 salmos em 4 semanas de oração.


A instrução da Igreja através do concílio foi de que se prevalecesse, pelo menos, a oração das Laudes e das Vésperas (como era de costume da Igreja primitiva), e que, sempre que o povo de Deus se reunir para rezar, buscassem tocar as fontes da fé através da Liturgia das Horas.


Hoje nós podemos viver enraizados na Igreja também através deste costume de rezar a liturgia das horas. A Igreja nos ensina que “o Espírito Santo (...) assiste sempre com sua graça aqueles que de boa vontade, salmodiando com fé, proferem esses poemas.”


Quando rezamos, rezamos com um coração Cristoscêntrico, com a autoridade da Igreja, com a decisão firme de louvar ao Senhor e santificar nosso trabalho e nosso dia.


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